O ressurgimento dos números ‘malditos’
O atacante colombiano Edgar Medrano, de 31 anos, se destacou recentemente no futebol de El Salvador ao portar a camisa 13 do Club Deportivo FAS. Curiosamente, todos os seus três filhos nasceram em dias 13: o mais velho em 13 de outubro, o do meio em 13 de novembro e o caçula em 13 de junho. Esta peculiaridade fez com que Medrano se sentisse à vontade com o número, que, não muito tempo atrás, era visto com desdém no país devido à sua associação com as gangues criminosas.
Medrano chegou ao FAS em janeiro de 2025 e logo se deparou com a história que cerca o número que agora ostenta. Há apenas quatro anos, o uso da camisa 13 era completamente proibido devido ao terror imposto pela Mara Salvatrucha (MS-13), que causou pânico em El Salvador. A gangue rival, Barrio 18, levou ao banimento do número 18 nas camisas de futebol, tornando esses números verdadeiramente ‘malditos’.
Essas gangues, que se fortaleceram na década de 1990, trouxeram uma onda de violência e medo que afetou a sociedade salvadorenha por décadas. No entanto, a realidade mudou. Com a implementação de um regime de exceção em março de 2022, o país deu passos significativos na redução da criminalidade, permitindo que jogadores como Medrano finalmente usassem esses números novamente.
Mudança de Paradigma
Na noite de 11 de outubro, em uma partida crucial no Estádio Óscar Alberto Quiteño, Medrano se preparou para entrar em campo, mostrando-se animado e brincalhão, acompanhando um menino que não o deixava ir. O atacante revelou que não tinha conhecimento da proibição anterior, mas ficou contente em poder usar a camisa 13 em um El Salvador que, segundo ele, se tornou seguro.
Em anos anteriores, usar o número 13 ou 18 em uma camisa significava atrair conflito e hostilidade. Contudo, a mudança na política de segurança impulsionou o renascimento desses números nas camisas dos jogadores. Atualmente, três clubes na Primeira Divisão — FAS, Fuerte San Francisco e CD Hércules — já adotaram as camisas 13 e 18, refletindo uma nova era no futebol salvadorenho.
Um Espelho da Sociedade
A transformação do país se torna evidente não apenas nas estatísticas de criminalidade, mas também no comportamento dos torcedores. Antes, a simples exibição destes números poderia gerar tensões e violência nas arquibancadas. Agora, isso está mudando. “Se você usasse o 13, a outra gangue não gostava; se usasse o 18, também não”, comentou Paúl Guzmán, presidente do Fuerte San Francisco. A situação não era apenas uma questão de futebol, mas um reflexo da complexidade social que permeava o país.
O zagueiro argentino Cristian Belucci, que chegou ao Fuerte San Francisco em 2025, também decidiu usar o número 18, motivado por um laço sentimental: o aniversário de seu pai. “Não sabia que esses números eram proibidos, mas não tive problemas”, afirmou Belucci, ressaltando a segurança que o país ganhou.
O Caminho Para o Futuro
Com a presença crescente dos números 13 e 18 no futebol, um simbolismo de mudança e esperança se estabelece. O jogador Alex “el Cacho” Larín, da seleção salvadorenha, foi um dos primeiros a desafiar a tradição, usando a camisa 13 em 2023, um gesto que ecoou em todo o país. Sua decisão foi vista como uma forma de encorajar outros jogadores a repensar o significado desses números.
Enquanto o FAS lutava por um lugar de destaque na tabela, a vitória recente sobre o Municipal Limeño, destacando a atuação de Medrano, simboliza não apenas um triunfo no esporte, mas também uma vitória para uma sociedade que busca recuperar sua identidade e confiança. Após o gol da vitória, a celebração no estádio foi um testemunho de que, finalmente, El Salvador está pronto para deixar para trás os fantasmas do passado.
A história das camisas 13 e 18 continua a ser escrita, e, no coração do futebol salvadorenho, as novas gerações começam a ver esses números como símbolos de esperança e renascimento.

